quinta-feira, 19 de julho de 2012

“Como escolher, se a cada escolha eu sei que perco um pouco de ti? Como esperar se a cada esquina um novo olhar teima em enraizar a saudade do teu? Como disfarçar o grito da boca entreaberta que transpira saliva por um beijo teu? Pergunto-me, e como não responder, como fazer para não me perder, se já nem sei o caminho, se já nem sei caminhar quando cada passo meu é a distância entre nós que se engrandece. O esquecimento torna-se impossível quando teu gosto permanece impregnado em meu hálito, como cera de vela fria. Como adormecer se a noite ainda é o deserto da continuidade da tua ausência, do inferno onde habito, das mentiras que respiro? Nas migalhas de lembranças que mal servem para alimentar os pássaros carniceiros que pernoitam a minha insônia, a última chama se apaga, aplaca a dor que me corta o peito, a dor desse jeito estreito de te odiar, desse jeito torto de te amar.”

— Cinzentos

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