sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Foto: Bem Que Se Quis - Gustavo Lacombe

Ele chega em casa como em todo os outros dias normais. Estaciona na garagem, pega o elevador e vai ao térreo conferir a caixa de correspondência. Nesse dia, em especial ao outros dias já ditos normais, é interrompido da rotina pelo porteiro:

- Seu Daniel, deixaram uma carta pro senhor. - diz o funcionário.
- Como assim, Paulo? Deixaram e foram embora? E por que você não colocou na caixa? - perguntou sem entender muito bem o porquê daquilo.
- Ela disse que era pra me certificar de que você tinha recebido a carta. - explicou.
- Ela? Quem é ela?
- Uma moça bonita, seu Daniel. Agora deixa eu ir lá. Não posso deixar a portaria vazia. Boa noite!
-Boa noite... - e pegou a carta sem entender muito bem aquilo tudo.

Uma carta, ainda que endereçada, faria sentido. Mas sem nada escrito? Apenas com o nome escrito em letras garrafais? Como sabiam o endereço dele? Que mulher estranha era essa? Era muita coisa correndo e chacoalhando na cabeça do pobre sujeito em tão pouco tempo. Os problemas da firma certamente o impediriam de relaxar, mas aquele pedaço de papel mudou o foco. Ele, curioso, tão logo abriu a porta do apartamento, se jogou na poltrona e abriu o envelope.

Segue o texto que, mesmo curto, o transportou para outro tempo, outro lugar:

"Não me questione. Eu não preciso mais ouvir todas as suas dúvidas. Já tiro pelas perguntas que tantos outros me fazem sobre nós dois o que você pode estar se perguntando nesse exato momento. Espero que você já saiba quem está do outro lado dessas linhas. Do alto do meu egoísmo, torço para que esteja lendo essa carta sozinho no seu apartamento. Espero estar certa.

Eu voltei. Voltei por "n" motivos, mas um pesou demais na minha decisão. Eu sei que foi muito tempo que passei longe, mal consigo imaginar o fato de você ter vivido tantas outras coisas, tantas experiências novas ou repetidas, mas que é fato que você precisava seguir. Do mesmo jeito que eu segui em um lugar completamente diferente, achei que conseguiria pensar de uma maneira igualmente diferente. Errei.

Não consegui esquecer um segundo. Todos os caminhos que a vida colocou na minha frente eu não segui. Deixei que vida amorosa estacionasse no maior prazer que já tive, o de te conhecer. E foi assim, sem conseguir te tirar da minha cabeça, que depois de tanto tempo entendi que não podia mais deitar na cama e não sentir o seu corpo pesando sobre o meu. Sou rio, você meu mar. Eu voltei e vou entender qualquer decisão que tomar.

Tiveram momentos em que me desesperei, mas seria covarde voltar por medo de viver o novo que eu queria tanto me entregar. Ou seria até mesmo mentira voltar por desespero. Eu aguentei o quanto pude. E voltei por amor. Só desejo o seu beijo pra me fazer esquecer todo esse tempo que passei longe apenas de ti, porque a gente sempre esteve dentro de mim."

Depois de tudo, eles ainda seriam felizes.

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